Freigeist

Sobre pessoas inadequadas ao trabalho. Espíritos livres, diz a palavra em alemão. Sobre mazelas de trabalho. De todo o tipo. Horários, colegas, tarefas, mentalidades, conversas, programinhas sociais, etc.. Para constatar que, nos dias atuais, independente do trabalho, estamos todos nivelados pelo estreitamento. E um lembrete: trabalho não é prazer, é meio de ganhar dinheiro. Realização vem no processo. E de vez em quando.

Tuesday, August 08, 2006

Mentecapto

Nada é estranho demais. No contexto de um mundo mentecapto, pequenas manias são só pra diferenciar um boi do outro. Todos mugem. Na maioria dos dias tenho certeza que trabalho rodeado dos maiores idiotas que já existiram, uma seleção refinada de retardados mentais, eles falam comigo e eu só ouço mugidos. Mas no fundo é maldade minha, tem tanta gente boazinha trabalhando aqui. São pessoas "de bem", trabalham o trabalho honesto, pegam um ônibus lá pra puta que o pariu, chegam em casa 20:00 (fazem hora extra naturalmente, sem o $$$ extra...naturalmente). Assistem à Fátima & William, ás cobras, lagartos, páginas da vida, que vão passando tão repetitivas. E vão dormir. E me parecem felizes. O mentecapto, de fato, sou eu.
Não é a toa que a gente acha que o tempo passa cada vez mais rápido, tenho certeza que já vivi centenas de dias completamente iguais entre si. O mesmo caminho, o mesmo "bom dia", o mesmo cansaço, a mesma piada ("é pavê, não é pra comer"). A mesma tristeza.
Eu tento ser "do bem" também e isso está me tornando alguém péssimo.
Outro dia me peguei as 03:30 da manhã pensando em projetos para o trabalho. Projetos que eu sei que, se apresentado à minha chefia, seriam respondidos com o tradicional olhar "é o que, hem ?"
Porque tentar, porque se esforçar, eu quero ser alguém ? Ninguém consegue ficar satisfeito consigo mesmo quando deita na cama e começa a pensar.
E assim aumenta o buraco no meu estômago a cada café, aquele que representa alguns minutos de trégua no longo dia. É o buraco no estômago, é o buraco na alma.
Alguns minutos trancado na cabine do banheiro, olhos fechados, só para simular uma sensação necessária de solidão. Só por alguns minutos.
Mas quem é esse filho da puta que tem cagar logo agora ????

Obs.: agradeço aqui Plaster e Maurice por me incluirem nesse diário. Desconfio que seja por causa de minhas dissertações deseperadas sobre meu emprego. Mamãe diz que devo ser grato por estar trabalhando e quando penso na minha situação financeira...ela não deixa de ter razão. Que perdedor...

3 Comments:

Blogger MM said...

bem vindo companheiro! Vou tentar ouvir mugidos aqui tb. De repente, me aborreço menos. Melhor que ouvir palavras repressoras, imbecis ou grosseiras

7:19 AM  
Anonymous Anonymous said...

O texto tá excelente.
Mas fico pensando se não haverá uma solução para esta vida amarga de trabalhos ingratos. Não é possível! Este é o caminho da frustração, da degeneração, do câncer! Gente! Revolução!

9:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

Hoje acordei 4:30 da manhã. Insônia. Acontece comigo às vezes. Fiquei rolando na cama e de repente me dei conta que estava pensando em assuntos de trabalho, como ia ligar pra um cliente para resolver um problema e tal. Às 4:30 da manhã. Podia estar dormindo. Pior que sei que vou ficar com sono ao longo do dia. E aí só me resta me trancar no banheiro e dormir - eu faço isso às vezes, sentada na tampa do vaso, quando estou morrendo de sono. Mas é o tipo de coisa que eu não posso nem escrever no meu blog, porque meu blog é popular demais até no meu trabalho, não seria muito inteligente. E eu gosto do meu trabalho. Não ganho muito. Eu ganhava mais antes, mas era ruim. O problema é que não existe emprego perfeito - o mundo corporativo não compreende que se você chegar 40 minutos atrasado porque dormiu mais, você vai produzir mais porque vai estar mais desperto, essas coisas. Mas é a vida. Pelo menos eu faço o que gosto aqui. E é perto de casa. E ninguém ouve Céline Dion. Ou estaria eu me contantando com migalhas?

6:05 AM  

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