Freigeist

Sobre pessoas inadequadas ao trabalho. Espíritos livres, diz a palavra em alemão. Sobre mazelas de trabalho. De todo o tipo. Horários, colegas, tarefas, mentalidades, conversas, programinhas sociais, etc.. Para constatar que, nos dias atuais, independente do trabalho, estamos todos nivelados pelo estreitamento. E um lembrete: trabalho não é prazer, é meio de ganhar dinheiro. Realização vem no processo. E de vez em quando.

Monday, August 14, 2006

Parasitas da música

Vou contar um pouco sobre o que eu faço. Trabalho em um escritório de administração de direitos autorais de música. Chamam de editora. Sempre que conto isso para algum velho conhecido que encontro por acaso na rua recebo o mesmo comentário: "Que legal, cara, tá trabalhando com o que você gosta, né ?" Já que explicar que não é bem assim leva muito tempo, disfarço: "É verdade"
Estou essencialmente trabalhando para os vermes da música, os parasitas. Aqui ninguém ouve música, só ouvem o rádio. Quando o pessoal aqui compra CD's ou DVD's geralmente é pra presentear alguém ou porque algum amigo encomendou. A artista preferida do funcionário do departamento criativo, responsável por trabalhar nosso catálogo de canções, é a Sarah Brightman. Pois é, eu não conhecia e me arrependi de ter perguntado.
Minhas função é trabalhar nosso catálogo inédito, canções de autores contratados que ainda não foram gravadas, tentar convencer intérpretes a gravar essas músicas. Todo mundo quer ter uma música gravada pelo Zeca Pagodinho. Dá uma grana preta. Preciso também encontrar novos talentos da composição para serem contratados por nós, para que componham os novos hits do momento. É frustrante. Conheço muitos músicos e compositores de alto nível mas não seria terrorista ao ponto de contratá-los. Nossos contratos são extremamente injustos. Sem contar que o mercado de música não está procurando boas canções, está procurando lixo reciclável pronto para consumo, um bigmac musical pingando de gordura e letras indignas de um aluno em processo de alfabetização. (Obs.: não tem uma máquina geradora de letras de músicas no "1984" do Orwell ? Tenho certeza que ela existe de fato...)
Lembro do dia em que veio um jovem loira aqui na editora e ficou conversando com o tal fã da Sarah Brightman. Meses depois, a indústria musical paria Danni Carlos. Mais uma cópia do esquema "Emmerson Nogueira", que já não era nada original: regravações de hits antigos. Arranjos acústicos, clima "intimista" eles dizem. É inaceitável que deixem essa pessoa cantar, que dizer de ainda lançarem um disco, vários discos da figura. É terrível porque agora o fá da Sarah Brightman é fã da Danni Carlos e ouve isso o dia inteiro, sempre em volume considerável pois ele gosta de compartilhar seu "gosto musical" com os outros. Não sou capaz de colocar em palavras o tipo de terrorismo que isso representa. Canções boas ou ruins, Danni Carlos massacra todas, sem dó, sem piedade, sem voz. Mas eu tenho fé. Tomo um café, lavo o meu rosto, sorrio para o espelho. Só mais 7 horas. Vai, garoto !!!

8 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Oh meu amor vc escreve tão bem!!!
Te amo!!!
Bjs

6:57 AM  
Blogger MM said...

cara, Dani Carlos é a escória. Quem ouve escória é... Deixa pra lá...
Não tem jeito. É inviável fazer música no Brasil com essa mentalidade das gravadoras

7:42 AM  
Blogger maurice said...

adorei este texto. c devia imprimir ele e levar contigo caso alguém te pergunte novamente com que vc trabalha... vai garoto!!

8:00 AM  
Blogger Mary Fê said...

vou compor umas coisas pra vc vender pro zeca pagodinho! quero ser a nova danni carlos! cansei de ser pobre hahahahha

8:19 AM  
Blogger Fish-head said...

se quiser faço um repertório de hits pra vc gravar em arranjos suaves e intimistas

10:49 AM  
Blogger FZero said...

A máquina do 1984 se chama "versificador". Ela faz exatamente o que a Danni Carlos e o Emmerson Nogueira fazem, mas provavelmente com resultados menos irritantes. VAI GAROOOOTO!

4:43 AM  
Anonymous Anonymous said...

Eu conheci a Sarah Brightman uns vinte anos atrás, sem exagero, antes de ela fazer sucesso. Quando ela era mais uma sopraninho. Aí ela se meteu com o Andrew Lloyd Webber e gravou o Fantasma da Ópera. Ok. Acho que casou com ele (com o Andrew, não com o Fantasma). E aí virou a Danni Carlos com vocalises. Eu ganhei um CD da Sarah de uma amiga oculta, porque eu comentei que gostava de O Fantasma da Ópera. Escutei uma vez e quase morri. Acho que foi um dos que eu "esqueci" na casa do meu ex, junto com O Guarda Costas, da Whitney Houston - que meu ex-namorado, que tinha gosto musical bom o bastante para ser seu colega de trabalho, me deu de presente achando que fez uma grande coisa.

5:11 AM  
Anonymous Anonymous said...

Hahahahahahahaha
Ontém mesmo estávamos falando da Dani Carlos...esculaxando óbvio...

7:23 AM  

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