Na volta da viagem de trabalho
Agora. Neste momento. Não era necessária a viagem. Não era necessária a obrigação de acordar cedo. Não era necessária a certeza de que o velho capo grosseirão reclamará do meu trabalho amanhã. Para ele nunca é o suficiente. Para os chefes nada costuma ser o suficiente. A não ser que você lamba sua bunda com o silêncio nos esporros e o riso escancarado nas piadas que só para eles fazem sentido.
Mas tudo bem. Tenho me calejado. Me sinto forte quando me calo perante a insanidade dos esporros sem sentido. Os sapos engolidos se tornaram um sinal de fortalecimento, ao passo que cuspir em alto e bom som minhas opiniões nas relações de hierarquia estava me exaurindo. Muita exposição e nenhuma recompensa em qualquer plano. Consigo olhar de cima, mesmo engolindo o sapo.
Na viagem não deu para fazer tudo o que ele pensara e nem mesmo o que fora planejado. Cinco cidades em dois dias. Programas alternativos em cinco cidades em coisa dias. Guia dos programas alternativos de todo o estado em menos de um mês. Neste ritmo não vai dar, meu camarada. Eu já sei disso. Quando você se der conta dará um chilique, ou alguma de suas puxas-sacos o alertará, e você receberá a constatação com um pouco mais de racionalidade.
Eu tentarei ficar calada. Ainda sexta-feira de manhã e eu já fazendo estes exercícios de grande esforço. Obviamente está longe de ser a vida sonhada. Mas também longe de ser a vida aceita.
Não aceito. Continuarei inquieta enquanto tiver de ouvir o tom de voz alto e grosso do capo. Do alto de sua montanha de dinheiro, enquanto negocia, pelo telefone, na minha frente, cinco passagens para o fim de ano na Espanha e em Portugal. Enquanto tenta descontar das horas-extras do motorista o dia de recesso que deu para toda a empresa. Enquanto diz em alto e bom som que comprou um laptop por R$ 6 mil (sem saber o péssimo negócio que fez). Enquanto obriga o faxineiro a entrar às 7 e sair às 19hs. Isso formalmente, porque ele sempre sai mais tarde e vez por outra entra mais cedo. Enquanto obriga os funcionários a entrar às 8 e sair às 18, reclamando quando realmente saem às 18hs. E sem lhes dar uma hora de almoço, quando na verdade deveriam receber duas.
Não quero a indiferença em relação a isso. Que tenha sua montanha de dinheiro, mas que tenha integridade e educação no trato com as pessoas.
He´s the hand that bites and the hand that feeds. Tratamento paternalista com as 15 mulheres bonitinhas que lá trabalham, ioga e acupuntura para os empregados, mas trambiques nas relações trabalhistas, chiliques porque não se pode conversar sobre assuntos pessoais na hora de trabalho e dinâmicas de grupo comandadas por sua filha para integrar o ambiente.
Quem cai na sua esparrela o chama até por um apelido. É um senhor bonachão. Construiu um patrimônio. Ouve música boa. Mas não me esqueço das grosserias. Da generosidade de fachada. E do quanto ele machuca meus ouvidos ao falar para “mim fazer”, “estrupo”, entre outras pérolas.
Mas tudo bem. Tenho me calejado. Me sinto forte quando me calo perante a insanidade dos esporros sem sentido. Os sapos engolidos se tornaram um sinal de fortalecimento, ao passo que cuspir em alto e bom som minhas opiniões nas relações de hierarquia estava me exaurindo. Muita exposição e nenhuma recompensa em qualquer plano. Consigo olhar de cima, mesmo engolindo o sapo.
Na viagem não deu para fazer tudo o que ele pensara e nem mesmo o que fora planejado. Cinco cidades em dois dias. Programas alternativos em cinco cidades em coisa dias. Guia dos programas alternativos de todo o estado em menos de um mês. Neste ritmo não vai dar, meu camarada. Eu já sei disso. Quando você se der conta dará um chilique, ou alguma de suas puxas-sacos o alertará, e você receberá a constatação com um pouco mais de racionalidade.
Eu tentarei ficar calada. Ainda sexta-feira de manhã e eu já fazendo estes exercícios de grande esforço. Obviamente está longe de ser a vida sonhada. Mas também longe de ser a vida aceita.
Não aceito. Continuarei inquieta enquanto tiver de ouvir o tom de voz alto e grosso do capo. Do alto de sua montanha de dinheiro, enquanto negocia, pelo telefone, na minha frente, cinco passagens para o fim de ano na Espanha e em Portugal. Enquanto tenta descontar das horas-extras do motorista o dia de recesso que deu para toda a empresa. Enquanto diz em alto e bom som que comprou um laptop por R$ 6 mil (sem saber o péssimo negócio que fez). Enquanto obriga o faxineiro a entrar às 7 e sair às 19hs. Isso formalmente, porque ele sempre sai mais tarde e vez por outra entra mais cedo. Enquanto obriga os funcionários a entrar às 8 e sair às 18, reclamando quando realmente saem às 18hs. E sem lhes dar uma hora de almoço, quando na verdade deveriam receber duas.
Não quero a indiferença em relação a isso. Que tenha sua montanha de dinheiro, mas que tenha integridade e educação no trato com as pessoas.
He´s the hand that bites and the hand that feeds. Tratamento paternalista com as 15 mulheres bonitinhas que lá trabalham, ioga e acupuntura para os empregados, mas trambiques nas relações trabalhistas, chiliques porque não se pode conversar sobre assuntos pessoais na hora de trabalho e dinâmicas de grupo comandadas por sua filha para integrar o ambiente.
Quem cai na sua esparrela o chama até por um apelido. É um senhor bonachão. Construiu um patrimônio. Ouve música boa. Mas não me esqueço das grosserias. Da generosidade de fachada. E do quanto ele machuca meus ouvidos ao falar para “mim fazer”, “estrupo”, entre outras pérolas.
1 Comments:
Nossa! Afff! Haja voto de silêncio!
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