Freigeist

Sobre pessoas inadequadas ao trabalho. Espíritos livres, diz a palavra em alemão. Sobre mazelas de trabalho. De todo o tipo. Horários, colegas, tarefas, mentalidades, conversas, programinhas sociais, etc.. Para constatar que, nos dias atuais, independente do trabalho, estamos todos nivelados pelo estreitamento. E um lembrete: trabalho não é prazer, é meio de ganhar dinheiro. Realização vem no processo. E de vez em quando.

Wednesday, October 25, 2006

A dinâmica feliz

Fiquei devendo um post importante. Há cerca de um mês foi realizada a primeira dinâmica de grupo do meu trabalho. Sim, a primeira. A segunda está chegando aí, na próxima sexta, dia 27. Todos mês haverá uma. E estou adorando.

Para início de conversa, são três horas a menos de expediente para esta experiência enriquecedora. E no quesito diversão, tratou-se de um programa surpreendentemente fantástico.

A responsável pela atividade é ninguém menos que a filha do dono da empresa, que no início do evento garante, com a cara mais séria e profissional do mundo, que nada do que acontecerá ali será passado a seu pai. O objetivo, segundo ela, é – adivinhem – integrar a equipe. Integrar o motorista que mora em Campo Grande com as patricinhas da Barra, com a boêmia de Niterói, com o cara da informática isolado de todos, e por aí vai.... Mundos bastante semelhantes, como se vê.

À clássica apresentação - meu nome é fulano, eu faço isso - ela acrescenta um pedido para que as pessoas digam como estão se sentindo no início daquela nova experiência. Curiosidade, apreensão, receio. Fico espantada com a quantidade de sentimentos significativos além do puro deboche e desprezo que tal iniciativa poderia motivar.

Começam as atividades propriamente ditas. Enfileirados, os empregados têm que olhar fixamente uns nos olhos dos outros, trocando de parceiros, até que todos tenham que se olhar. Uns riem, outros aproveitam o momento para, de fato, analisar os colegas com um olhar interessado e penetrante, como que realmente querendo tirar algo daquela experiência.

Em seguida, a fila anda do mesmo jeito, mas cada um term que dizer ao outro uma qualidade. Trocamos elogios. Lindo. Eu e a menina da recepção, que entrara uma semana antes. Eu e a criatura grossa, que trabalha ao meu lado. Eu e as patricinhas micareteiras. Saio pela tangente, perguntando às organizadoras se posso fazer elogios materiais também. Sugestão aceita, resolvo alguns problemas falando bem da camisa de fulana, do cabelo de beltrana e da tatuagem de cicrana. Sim, porque no meu trabalho 95% das pessoas são mulheres.

A integração vai se consolidando.

Na última atividade aparecem os objetos que não podem faltar em uma dinâmica de grupo que se preze. Papel e caneta. Dessa vez não tivemos que formar grupos e traçar um plano para resgatar comida perto de um vulcão, com poucos recursos, como já fizera certa vez em dinâmica da Globo. A filha do chefe e sua auxiliar pediram que desenhássemos algo que nos representasse.

Começo a observar a proliferação de sóis ao meu redor. Na hora da apresentação, todos dizem que emanam luz, têm energia, se sentem fortes. O faxineiro se desenha um rodo e uma vassoura na casa. A copeira desenha uma moça com uma bandeja de café.

Quase três horas depois de me sentir como nos tempos de adolescente de colégio, em que tinha de conter o riso debochado por causa da cretinice de colegas e professores, chega o clímax. Olho à minha volta e vejo pessoas chorando, emocionadas. A rodada agora é para que digam o que acharam da experiência e o que levam para si.

O rapaz da informática, sempre isolado de todos e que fala sozinho enquanto trabalha, diz, depois de uma pausa de reflexão e suspiro, que leva amizade. Na segunda-feira seguinte foi seu aniversário. Apesar do quadro de aniversariantes pregado no mural, ninguém se lembrou e lhe deu parabéns.

No chororô a sala se entope de pausas para recuperar o ar e continuar a fala. Uma menina que mora na Barra (sai de casa antes das sete da manhã) dizia, limpando as lágrimas que não paravam de escorrer da cara inchada, que vinha para o trabalho sem nenhum problema, muito feliz, pois sabia que ali estaria em um ambiente onde se sente bem, onde encontra pessoas importante em sua vida. Outras choravam pelos elogios surpreendentes que ouviram na segunda atividade e pela frustração de não terem ouvido certas coisas de pessoas esperadas.

A pérola: uma das emotivas apresenta em sua fala, repleta de pausas para retomar o fôlego interrompido pelo soluço das lágrimas, uma trajetória emocionante. Trabalhara três anos em outro local e quando chegou à empresa se sentiu.... deslocada. Um momento difícil, que ela conta como se fosse incomum neste tipo de situação. Relata que com o tempo foi.... se integrando. Encontrou amizades e pessoas que gostam dela. A dinâmica teria sido quase que uma síntese da experiência naqueles cinco meses que se passaram, desde que chegara à empresa. O que ela levava da dinâmica de grupo? Pausa... Choro... Pausa...."As chaves de uma nova casa".

Momento difícil para mim. Olhei fixamente para o teto, senão o riso seria escancarado, alto, revelador. E para não me revelar quando perguntada sobre o que eu levava de tão nobre experiência, consegui me sair bem, sem o sincerocídio que às vezes me é peculiar.
"Levo surpresa e bom humor".

Estou animada para a próxima sexta.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Muito bom! Quero participar também...

6:18 AM  
Blogger maurice said...

hahaha que bizonho... estou rezando pra RH daqui não ter esta idéia nunca!!
felizmente aqui tem 70 e tantas pessoas, assim ficaria difícil fazer dinâmica. ou será que não, ficaria MAIS interessante?
medo...

7:01 AM  

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