Freigeist

Sobre pessoas inadequadas ao trabalho. Espíritos livres, diz a palavra em alemão. Sobre mazelas de trabalho. De todo o tipo. Horários, colegas, tarefas, mentalidades, conversas, programinhas sociais, etc.. Para constatar que, nos dias atuais, independente do trabalho, estamos todos nivelados pelo estreitamento. E um lembrete: trabalho não é prazer, é meio de ganhar dinheiro. Realização vem no processo. E de vez em quando.

Saturday, August 26, 2006

Elas voltaram ou Freakshow

Algo tão obviamente inacreditável, que beira o grotesco. Todos se calam. As únicas opiniões que ouvi foram contrárias. Mas foram só três. Podem haver mais. Mas alguém vai manifestar sua recusa? A dúvida permanece: é obrigatório? Certamente serão abertas exceções. Mas qual o preço que se paga para as exceções em um ambiente que acha esta proposta é considerada, no mínimo, viável?
Segue abaixo a distorção da distorção....

Queridos,
Como já é do conhecimento de alguns, a nome da filha do dono da empresa, quer fazeruma dinâmica de grupo com a gente.Pensamos inicialmente em fazer num sábado, mas acho que é melhor para todos,principalmente para a turma que mora longe, fazer durante a semana e ficar com o fim de semana livre (pelo menos quem não está na campanha nem de plantão).Sendo assim, marcamos para dia 15 de setembro.É uma sexta-feira.Começará às 18h, logo após o expediente, e dura cerca de 3h, ou seja, até mais ou menos 21h.Depois pode rolar choppex.Anotem nas agendas e tragam uma roupitcha confortável.
Bjs,

Alguns detalhes importantes:
- depois do expediente
- sexta-feira
- três horas de duração
- roupas (ou melhor, "roupitchas") confortáveis. Mau presságio...
- choppex pra dar uma amenizada no drama. Conta outra.

E eu pensei que tivesse deixado isso para trás quando saí da faculdade...

Pelo visto, a capacidade de executar tarefas e o relacionamento nho ambiente de trabalho não são mais critérios suficientes para avaliar o empregado.

Nível

Recebi um mail no trabalho, de uma colega, com o seguinte assunto: "Parabéns, hoje é o nosso dia". Dia do jornalista? Do assessor? Do moreno? Do motorista?
Pois saibam que dia 25 de agosto foi Dia dos Lindos. Muito importante.
A mensagem - mais uma maldita corrente idiota, claro - dizia: "Então, que tal mandar essa mensagem para uma pessoa que você acha linda? Mas, por favor, não mande de volta para mim, eu já recebi mais de 1000, lotou minha caixa-postal...". Super bacana.

Wednesday, August 23, 2006

Preservação

O horário formal já é largo, maior que o comum. Dez horas de jornada. Teoricamente deveríamos ter duas de almoço. Mas não. É só uma.
Ontem minha jornada começou às 6:30, quando estava na casa do chefe, pronta para partir para o frio de Resende, para acompanhar o candidato. Na véspera, perguntara a uma das superiores se poderia sair mais cedo. “Claro”.
Dito e não feito. Chego ao Rio, exausta, já dez horas após o início da jornada. Termino o que tinha para fazer e pergunto se poderia ir embora. O chefe responde: “Ontem eu entrei às oito e a reunião em que eu fui, à noite, terminou às 21. Hoje cheguei às oito de novo. Por que você deveria sair mais cedo, então?”
Sabe o que tem significado “me sair bem” nos últimos dias? Não dar um pio quando ouço este tipo de comentário. Quando engulo sapo, desaforo, a seco, lembro que estou fazendo o certo, nos dias de hoje.

Saturday, August 19, 2006

Fôlego

No dia de sábado ainda faltam 24 horas para o longo mergulho. O mergulho de segunda-feira, depois que subo as escadas, tomo fôlego e entro na piscina. São 1500 metros, a prova maior da natação. É a maratona da natação.
Depois disso, só saio das águas e respiro de novo cinco dias mais tarde, em uma sexta-feira, pouco depois das 18 da tarde. O fôlego costuma faltar durante a semana, mas não posso emergir. A prova é longa.
Na verdade ainda ainda há uma pequena prorrogação no fim de semana. Tenho que tomar mais fôlego para nadar em águas geralmente mais sujas que as da Zona Sul carioca. Piscinas áridas do subúrbio do Rio. Sempre esperando a Rede Globo chegar, a hora que for, para fazer uma tomada de um minuto da prova e depois partir. Nisso, a maratona já me consumiu e já estou no fim de sábado novamente. Com 24 horas para tomar mais fôlego.

Tuesday, August 15, 2006

Ai...

Ela sempre tem uma lição de moral para dar, por mais banal que seja a discussão.
Não está conseguindo abrir o site do jornal? "Você é muito impaciente. Tem que descer a página e clicar aqui, ó", ela diz, em seu estranho jeito de auxiliar. Mesmo assim o site não abre. E eu, com o esforço hercúleo no qual venho trabalhando, não dou uma palavra.

Ela sempre tem um jeito de tentar mostrar o que acredita ser superioridade sobre os outros.
"Eu sempre quis fazer jornalismo. Desde os 10 anos sabia que queria fazer isso. E graças a Deus não sou nenhum pouco frustrada com a minha profissão. Faço o que eu gosto", vomita, em alto e bom som, com empáfia.

ou

"Eu me sacrifico para pagar faculdade para meu filho, mas tudo bem. Até acho melhor, porque na faculdade particular ele não tem que enfrentar greves. Prefiro pagar e ele não ter esta dor de cabeça", tenta vender, achando que quem estudou em faculdade pública pode comprar.

Risco

O risco de se atualizar este blog no trabalho.
O risco de se ver este blog no trabalho.
O nome é simples, qualquer um pode procurar no Google e achará. Com os detalhes que colocamos sobre nossos trabalhos, não tem pseudônimo que disfarce.
Mas como não fazê-lo no trabalho? É lá que as idéias surgem. É lá que dá para escrever no calor dos acontecimentos. A adrenalina de abrir e fechar a janela se alguém se coloca atrás de você, de cara para o seu monitor, é dispensável, confesso. Fico meio neurótica. "Será que viram?"
Mas é impossível desperdiçar tanto tempo sem dar uma olhadinha. Tanto tempo mesmo. Fico no trabalho por dez horas. Isso mesmo. Dez horas. Regimentais. Fora o tempo extra, quando aparecem mil coisas para fazer no fim do dia.
Ler e atualizar o blog refresca as horas passadas no computador e me uma sensação de solidariedade com os escribas que postam aqui.

Alguém sabe como tirá-lo do Google? Antigamente havia este recurso nas configurações do blog, agora não acho mais.

Reflita

Muito interessante. O mail abaixo foi passado com o seguinte assunto: "Para refletir". Reparem no comentário da pessoa que envia. E o texto em si, que fala sobre a "palpitação sobrenatural da notícia". Realmente, nós, jornalistas, somos uns nobres.... E se vem de um sujeito como Gabriel Garcia Marquez, trazendo um quê de cultura e literatura para o cotidiano medíocre que as pessoas preferem não ver, melhor ainda....


Amei.... só sendo louco mesmo (comentário da senhora que enviou o mail)

SOBRE O ALUCINADO OFÍCIO DO JORNALISMO
"Pois o jornalismo é uma paixão insaciável...
Ninguém que não a tenha sofrido pode imaginar essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida.
Ninguém que não a tenha vivido pode conceber, sequer, o que é essa palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo das primícias,a demolição moral do fracasso.
Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderá persistir num ofício tão incompreensível e voraz, cuja obra se acaba depois de cada notícia como se fora para sempre, mas que não permite um instante de paz enquanto não se recomeça com mais ardor do que nunca no minuto seguinte".


Gabriel Garcia Marquez


POST by Plaster

Miserável Aniversário

Eu não gosto mais de aniversário. Nunca curti muito quando todos cantavam parabéns olhando para minha cara, esperando encontrar a alegria escrita nos meus olhos. Fico intimidado e quando fico intimidado eu fico escroto, chato, sem graça e mentiroso. E estou sempre intimidado.
Aqui onde eu trabalho, fazer aniversário é traumático. Por essas e outras eu sempre tirava férias em julho, o mês em que vim ao mundo. O que acontece é o seguinte: aqui na empresa é o aniversariante que tem obrigação de trazer o bolo. Deixem me repetir a palavra: obrigação ! A coisa é séria, passível de demissão e eu garanto a vocês: não estou brincando.
Um comunicado no quadro de avisos já cagueta para todos quem são as vítimas do mês corrente. Os doentes, fanáticos por bolo não conseguem segurar a onda, precisam expressar de qualquer forma a importância desse dia. Que é o dia do bolo, mais do que o dia do seu aniversário. Estão a todo momento fazendo piadinhas, lembrando que a hora de trazer o bolo vai chegar: "e aí, já preparou o bolo ?", "olha que eu gosto de chocolate, hem !", "vai encomendar na Parmê ?" e blablablablabla. Só faltava o "traz pavê que aí não precisa comer". Minto. Esse também sempre rola.
Ó justiça divina, quando acabará a estupidez humana ? Quantos séculos serão necessários para que ocorra algum tipo de evolução ? Aonde isso vai acabar ? Quanto tempo terei que conviver diariamente com criaturas praticamente unicelulares ? Minha fé atualmente mede meio nanômetro.
Esse ano foi curioso: o chefão da empresa estava com a chefona na copa e me agradeceu pelo bolo que eu trouxe: "estava muito bom". No que a chefona observou: "só um pouco pequeno...". Aí ele emendou: "aproveita e fala com ele porque você estava reclamando dele comigo antes..." e ela: "é, vou enquadrar ele...bem enquadrado".
Até hoje não sei o que ela quis dizer com isso, mas por enquanto não fui enquadrado...ano que vem acho que vou encomendar um bolo maior...

Monday, August 14, 2006

Parasitas da música

Vou contar um pouco sobre o que eu faço. Trabalho em um escritório de administração de direitos autorais de música. Chamam de editora. Sempre que conto isso para algum velho conhecido que encontro por acaso na rua recebo o mesmo comentário: "Que legal, cara, tá trabalhando com o que você gosta, né ?" Já que explicar que não é bem assim leva muito tempo, disfarço: "É verdade"
Estou essencialmente trabalhando para os vermes da música, os parasitas. Aqui ninguém ouve música, só ouvem o rádio. Quando o pessoal aqui compra CD's ou DVD's geralmente é pra presentear alguém ou porque algum amigo encomendou. A artista preferida do funcionário do departamento criativo, responsável por trabalhar nosso catálogo de canções, é a Sarah Brightman. Pois é, eu não conhecia e me arrependi de ter perguntado.
Minhas função é trabalhar nosso catálogo inédito, canções de autores contratados que ainda não foram gravadas, tentar convencer intérpretes a gravar essas músicas. Todo mundo quer ter uma música gravada pelo Zeca Pagodinho. Dá uma grana preta. Preciso também encontrar novos talentos da composição para serem contratados por nós, para que componham os novos hits do momento. É frustrante. Conheço muitos músicos e compositores de alto nível mas não seria terrorista ao ponto de contratá-los. Nossos contratos são extremamente injustos. Sem contar que o mercado de música não está procurando boas canções, está procurando lixo reciclável pronto para consumo, um bigmac musical pingando de gordura e letras indignas de um aluno em processo de alfabetização. (Obs.: não tem uma máquina geradora de letras de músicas no "1984" do Orwell ? Tenho certeza que ela existe de fato...)
Lembro do dia em que veio um jovem loira aqui na editora e ficou conversando com o tal fã da Sarah Brightman. Meses depois, a indústria musical paria Danni Carlos. Mais uma cópia do esquema "Emmerson Nogueira", que já não era nada original: regravações de hits antigos. Arranjos acústicos, clima "intimista" eles dizem. É inaceitável que deixem essa pessoa cantar, que dizer de ainda lançarem um disco, vários discos da figura. É terrível porque agora o fá da Sarah Brightman é fã da Danni Carlos e ouve isso o dia inteiro, sempre em volume considerável pois ele gosta de compartilhar seu "gosto musical" com os outros. Não sou capaz de colocar em palavras o tipo de terrorismo que isso representa. Canções boas ou ruins, Danni Carlos massacra todas, sem dó, sem piedade, sem voz. Mas eu tenho fé. Tomo um café, lavo o meu rosto, sorrio para o espelho. Só mais 7 horas. Vai, garoto !!!

Saturday, August 12, 2006

Síntese de um crepúsculo (ou a altura do umbigo da Luana Piovanni)*

Poucas horas depois do almoço. Revistas de moda. A nova coleção de esmaltes Colorama Water Shine, a pele da Flávia Alessandra, o desfile da Cori (?), bolsas-carteira, escova de chocolate, mini-lipo, mega-lipo, prossecco, a Taís Araújo de hoje e a da época de Xica da Silva, o preço do creme para o rosto que a Angélica usa, Luciano Huck faz bem à saúde, a altura do umbigo da Luana Piovanni, a feiúra (?) e as celulites da Camila Pitanga ao caminhar pelo Leblon, sanduíches a metro, a coleção primavera-verão da Osklen, a febre de shopping, as academias do bairro, o mal que o sedentarismo faz, seis vezes e sem entrada com a primeira parcela pra setembro, corretivo líqüido X bastão (ou melhor, stick), o cabelão e a flacidez da Daniele Winits, pontas-de-estoque, Rua Teresa, falhas de sobrancelha, depilação à laser, peeling químico, santinhos do PFL...
O piso do reservado do banheiro é composto de cerca de 35 lajotas de pouco mais de um palmo de lado cada, brancas com rajado cinza-chumbo.
Acho que prefiro meu trabalho quando trabalho.
Pelo menos era sexta-feira.

*OUTRA COLABORAÇÃO DA AMIGA MÉDICA, EM BREVE TAMBÉM TITULAR DO BLOG



Friday, August 11, 2006

Regras de boa convivência em locais de trabalho (destinado aos que desejam envolvimento mínimo)*


1 - Adote um vocabulário restrito. Abuse de expressões como “Bom dia”, “Boa tarde” e “Até amanhã”. Tudo com entusiasmo moderado. O excesso pode suscitar uma idéia de aproximação e a falta uma preocupação, o que talvez dê margem ao início de uma enfadonha e cansativa conversa.
2 - Evite terminantemente perguntas, mesmo que protocolares, do tipo “Como foi o seu final de semana?”, “Está tudo bem?”, “Cansada?”, “Chateada com alguma coisa?”. Afinal, tudo o que você menos deseja é encontrar alguém que realmente as responda.
3- Desconheça política, em todos os seus aspectos. Nunca se posicione. E se for inevitável, concorde com a maioria, sempre.
4 - Não mostre apreço pelo álcool nem outras drogas, lícitas mesmo. Moças respeitáveis bebem somente licores e mesmo assim só para acompanhar o namorado numa grande comemoração.
5 - Cerveja (e futebol) são interesses exclusivamente masculinos.
Você nunca foi ao Maracanã e não tem a menor vontade de ir, lá não é lugar de mulher de família...
6- Conheça meia dúzia de hits musicais do momento, basta um pedacinho do refrão. Demonstre certo apreço por eles. Se preferir use cinema, funciona tão bem quanto. Teatro é perigoso.
7- Saiba o nome da novela das oito e dos atores principais que integram o elenco, se tiver paciência assista a um único capítulo, assim terá assunto pra oito meses.
8-Leia O Globo, e somente ele.
9- Nunca, em hipótese alguma, desempenhe suas tarefas prontamente e nunca ache nada fácil demais. O excesso de eficiência é mais comentado do que a incompetência.
10- Evite a pontualidade excessiva, cinco minutos de atraso na chegada e dez na saída são a medida certa.
11-Não reclame da sua jornada de trabalho e muito menos do seu salário, “atualmente estar empregado já é uma benção”. E concorde sempre com a máxima de que “o trabalho dignifica o homem”.
12-Aprenda: amigo é amigo, colega de trabalho é outra coisa completamente diferente.

*CONTRIBUIÇÃO DE AMIGA MÉDICA (EM BREVE TAMBÉM TITULAR DO BLOG)

Marketing

Poisé, essa galera do marketing. Que povinho.
Primeiro tenho que constatar que é um pessoal que se destaca por sua quase completa falta de educação. Nada de bom dia, sempre direto pro assunto, afinal das contas o tempo é curto, os consumidores esperam mais e mais informação e eles, os marketeiros, estão aí pra cumprir prazos de lançamento de campanha publicitária e enlouquecer o resto de nós.
Não se planeja o lançamento de um produto e se bola uma campanha para tal. Estes tempos há muito passaram. Agora todo mundo trabalha com o Marketing, que lança alguma campanha idiota, algum projeto qualquer, de que nem faz idéia se é realizável, e depois manda o resto se virar.

Nunca vou esquecer quando recebemos às 11 horas da manhã 5 músicas para ficarem prontos às 4h da tarde - porque a empresa tinha lançado uma gigantesca campanha na TV Globo pra venda de toques temáticos (copa do mundo)... sem pensar no produto em si.


Todos eles querem conseguir emplacar um projeto, lançar uma moda, acertar em cheio numa campanha... o consumidor vira caça, o produto só um serve pra preencher a espectativa deixada pelo comercial de TV...
Como a imagem está acima de tudo - o Departamento de Marketing tá praticamente acima da lei, quer dizer, dos bons costumes.
É claro que este tipo de pessoa não pode, possívelmente, prestar.

Comida é água, bebida é pasto

O contexto: para não dar ticket-refeição, o dono da empresa fornecia almoço para os funcionários, feito por uma cozinheira. Comida caseira, mas ruim, com carne de terceira, excesso de gordura no feijão, arroz “unidos venceremos” em tijolos, etc.. Mudaram a cozinheira. Melhorou. Mudaram de novo. Para uma pior. Todos reclamavam.

O e-mail: Pessoal, em virtude das reclamações intermináveis nos últimos anos, a partir do dia 15/ago/2006, a empresa não fornecerá almoço.
Bjs,


Assina a secretária do dono.

Diálogo matinal:
- Cortaram a comida. Imagina os gastos que vamos ter tendo que comer todos os dias na rua.
- Mas não haverá nenhuma reposição?
- Não.
- E isso não vai ser discutido?
- Vai discutir isso com o chefe....
- Mas nem pelos subalternos, para tentar achar uma solução?
- Não.

Depois rola o papo de que é preciso marcar uma reunião da cooperativa para discutir o assunto. Ah sim, é cooperativa, não carteira assinada.

- Mas você não disse que não era para discutir, nem entre a gente?
- Ah, mas assim tudo bem então...

Thursday, August 10, 2006

Hieraquia...

Ingenuidade acreditar que existem empresas sem ela. Uma coisa é ser patrão, ser subordinado já é outra bem distinta. Algumas empresas adotam estratégias mais modernas e procuram tornar a hierarquia algo praticamente invisível. Os funcionários são incentivados a dar opiniões, apresentar idéias e a relação entre subordinados e chefe não é carregada de muita reverência. Dividem a mesma mesa do refeitório, conversam sobre banalidades, trocam e-mail pornográficos, tudo na boa. Não sei se realmente existem empresas assim ou se foi só um sonho que eu tive.
Aqui onde trabalho funciona diferente. Uma vez fui avisar ao Patrão que os remédios que ele me encheu o saco para conseguir na Alemanha estavam à caminho. Observem: um assunto de interesse DELE. Quando fiz o movimento me dirigindo à porta da sala dele, a secretária do cara me lançou o olhar "tu vai mesmo entrar na sala dele, mané ?". Reavaliei minhas intenções e deixei o recado com ela mesmo.
Como se isso não bastasse, aqui os gerentes (e como tem gerente...) tem um banheiro exclusivo. O Patrão tem um que só divide com os advogados da empresa. Tem chave e fica trancado pra que nenhum serviçal coloque as patas na louça alheia. Surreal.
Outro dia percebi que uma das gerentes precisava criar uma pasta nova em um diretório específico para gerar um relatório. E ela não fazia a mínima idéia como criar uma pasta nova no Windows. Tudo bem, nem todo mundo precisa saber operar computadores...mas uma gerente de multinacional que ganha alguns milhares de reais por mês deveria.
O perigo de tudo isso é deixar que essas coisas se transformem em mágoa acumulada, o que nos torna rancorosos, amargurados. Como fazer para praticar o zen no ambiente de trabalho ?
A iluminação está há anos-luz daqui...

Pirilampo e Gisela Amaral

Sabem que é Gisela Amaral?
Conhecem o restaurante Pirilampo, em Araras?
Mas sabem que Araras é um ponto de grã-finos, com festivais gastronômicos e restaurantes famosos, certo?
Se não sabem, deveriam saber. "É importante lermos sobre coisas sobre as quais não nos interessamos ou com as quais não trabalhamos. Elas podem ser úteis algum dia. É conhecimento".
Ensinamento da minha quarta-feira, depois de demonstrar meu desconhecimeno sobre Araras e Gisela Amaral (é a mulher do Ricardo Amaral, ora! Não sabe quem é Ricardo Amaral?! Aí já é demais....).
Engraçado que logo depois de ser criticada pelo meu desconhecimento e pelo ar supostamente blasé como tratei uma notícia que poderíamos dar sobre estes dois fatos importantes - a presença de Gisela Amaral em um evento e o happy hour no Pirilampo - , a mesma pessoa que me deu a lição de moral perguntou se a palavra açougue tinha U.
Ela é jornalista. É minha superior.

Wednesday, August 09, 2006

Dúvidas na tarde de quarta-feira

qual o instinto mais primitivo despertado em um local de trabalho?
quem costuma ser pior, o chefe ou o dono do local onde se trabalha?
e como sobreviver em um ambiente onde nenhuma das pessoas que trabalham com você se salva?

Zzzzzzz...

O sono talvez seja o único fator que perpassa qualquer trabalho. Entra emprego, sai emprego, ele está sempre lá.
E o trabalho é também o local onde é mais complicado combatê-lo. As atividades dificilmente despertam um interesse que possa nos acordar da letargia.
A batalha contra o sono no trabalho é a mais árdua. É o local/momento onde de forma alguma se pode capitular e ao mesmo tempo o local/momento onde é mais difícil não fazê-lo.
As armas, assim como a presença do sono, também permanecem as mesmas. Café, cigarro, balas, doces, cochilo no banheiro. Na era cibernética tamém é possível apelar para os amigos. Já me peguei inúmeras vezes pedindo socorro via messenger ou mail. A situação vale um socorro mesmo, porque não dá para dormir na cara do chefe ou dos colegas de trabalho, embora já tenha quase feito isso algumas vezes.
No trabalho, em qualquer trabalho, plagiando Euclides da Cunha, o sono é, acima de tudo, um forte.

Tuesday, August 08, 2006

Contribuição do amigo Amaral


Tecido forra o tampo, os lados, emoldura o pesado silêncio.Sempre a mesma temperatura, sempre a mesma luz, sem reflexos colorindo os cantos, dourado de fim de tarde, sem ecos, frequências sobrando. sem o grito na rua,sem quadros pendurados. 3x2 de paredes grossas, som morto, ambiente controlado em calibragens ereferências, não veria o nascer da terceira guerra estando aqui, tampouco a chuva chegando, as duas televisões em minha frente não surpreendem, transmitem só aquilo que sei, aquilo que esse outro escolheu,esse outro que nasce quando bato o cartão e morre minutos depois, esse outro que cisma ser eu. estou "em segurança" atrás de uma porta de aço, 800kg entre eu e o resto... o RESTO, assim vemos o mundo aos olhos desse que nos olha, esse querido e grande irmão, nele,para além de um funcionário existe apenas migalha... a ironia é que esse resto, esse grão, é o que resta demais caro em mim, escondido.

Confraternização

Todo final de ano tem festa de "confraternização". O uso dessa palavra específica parece ser um deboche. A empresa aluga um espaço lá em Vargem Grande, um espaço até bonito, com piscina, campos de vôlei e futebol. Tudo para proporcionar aos trabalhadores aquele dia "colônia de férias" com os colegas e a família. Na festa se reproduzem com perfeição as relações hierárquicas que já existem no escritório. Os ricos e "sofisticados" diretores se reunem em uma mesa coberta, que fica perto da piscina, à parte de todas as outras mesas da festa, reservadas para o mortais e fudidos em geral. É lá que fica o diretor-geral, destilando seu humor tosco e grosseiro para um grupo de amebas que riem de tudo que ele diz, por mais estúpido e agressivo que seja. É porque o diretor-geral tem esse jeito ogro de ser que alguns parecem até admirar. Ali se reunem, separados do resto da "confraternização".
Para um reles mortal como eu, sobra um único remédio para suportar esse longo dia: cerveja. Muita cerveja. Quantidades abusivas de cerveja e churrasco para transformar tudo em um pobre bacanal de carne de boi. Não é a toa que engordei uns 20 kilos desde que entrei na empresa.
Tento me manter relativamente são e acordado até o almoço. Depois rola um doce pra dar uma equilibrada na glicose e me preparar para o momento mais terrível, o ápice do evento, o pesadelo supremo: amigo-oculto. A graça divina permite que os funcionários não sejam obrigados a participar dessa "brincadeira". Mesmo assim não deixa de ser doloroso assitir ao espetáculo deprimente oferecido por pessoas presenteando pessoas que elas odeiam. Para dar um espírtito mais natalino à coisa, existe um valor estípulado para o presente mas, acreditem, não é o valor máximo. É um valor mínimo !!!!
Existe um lista de presentes também então fica bem fácil de presentear seu colega e observar sua falsa cara de surpresa quando recebe o presente. Na lista da última festa o campeão absoluto foi Dan Brown e seus inúmeros clássicos na lista de "Mais vendidos - Ficção". Pelo menos a galera lê a lista de mais vendidos. Um funcionário em particular se deu bem e ganhou a versão ilustrada do Código Da Vinci...vale pelas figuras.
No final das contas são sorteados alguns brindes, tipo TV e aparelho de som. É um prêmio de consolação pelo ano que se passou. Saio de lá levemente bêbado, de ônibus (sou o único na empresa que não dirige) e preparado para a sexta-feira do dia seguinte. Isso mesmo, a festa é sempre na quinta para desestimular a bebedeira. Ah, como são ingênuos...
Obs.: baseado em fatos reais, eu acho...

Fassbinder e ambientes de trabalho

Uma estranha coincidência sobre meu trabalho sobre Fassbinder, o que ando procurando na internet sobre ele e sobre ambientes de trabalho. O texto abaixo é de autoria de um estudante de cinema que se apaixonou pela obra do diretor alemão e que compartilhava o interesse com um amigo, o Michael em questão. Ele fala sobre como recebeu a notícia da morte do cineasta.

When I read in the newspaper he had died, I was working a boring job in an incredibly oppressive environment. I felt trapped. I felt I was living in a Fassbinder film. I went home sick that afternoon not because I was particularly upset, but because Fassbinder's death seemed to signal an end to a period of my life. Things were different after that.
Michael and I called each other less and less. It wasn't that we had nothing to talk about; it was other things. Michael was involved in an obsessive love affair. I was getting caught up in politics. Neither one of us was making enough money to support our phone bills. Life was like that. Fassbinder would have understood.

Mentecapto

Nada é estranho demais. No contexto de um mundo mentecapto, pequenas manias são só pra diferenciar um boi do outro. Todos mugem. Na maioria dos dias tenho certeza que trabalho rodeado dos maiores idiotas que já existiram, uma seleção refinada de retardados mentais, eles falam comigo e eu só ouço mugidos. Mas no fundo é maldade minha, tem tanta gente boazinha trabalhando aqui. São pessoas "de bem", trabalham o trabalho honesto, pegam um ônibus lá pra puta que o pariu, chegam em casa 20:00 (fazem hora extra naturalmente, sem o $$$ extra...naturalmente). Assistem à Fátima & William, ás cobras, lagartos, páginas da vida, que vão passando tão repetitivas. E vão dormir. E me parecem felizes. O mentecapto, de fato, sou eu.
Não é a toa que a gente acha que o tempo passa cada vez mais rápido, tenho certeza que já vivi centenas de dias completamente iguais entre si. O mesmo caminho, o mesmo "bom dia", o mesmo cansaço, a mesma piada ("é pavê, não é pra comer"). A mesma tristeza.
Eu tento ser "do bem" também e isso está me tornando alguém péssimo.
Outro dia me peguei as 03:30 da manhã pensando em projetos para o trabalho. Projetos que eu sei que, se apresentado à minha chefia, seriam respondidos com o tradicional olhar "é o que, hem ?"
Porque tentar, porque se esforçar, eu quero ser alguém ? Ninguém consegue ficar satisfeito consigo mesmo quando deita na cama e começa a pensar.
E assim aumenta o buraco no meu estômago a cada café, aquele que representa alguns minutos de trégua no longo dia. É o buraco no estômago, é o buraco na alma.
Alguns minutos trancado na cabine do banheiro, olhos fechados, só para simular uma sensação necessária de solidão. Só por alguns minutos.
Mas quem é esse filho da puta que tem cagar logo agora ????

Obs.: agradeço aqui Plaster e Maurice por me incluirem nesse diário. Desconfio que seja por causa de minhas dissertações deseperadas sobre meu emprego. Mamãe diz que devo ser grato por estar trabalhando e quando penso na minha situação financeira...ela não deixa de ter razão. Que perdedor...

Preferências

Ainda não são 9hs da manhã. Meu colega de trabalho se lamenta porque perdeu Casseta e Planeta. Depois, se lembra que hoje é terça e o programa ainda não foi ao ar, e fica aliviado.
No meu trabalho, a Rede Globo reina, independente de programa. Novela, Fantástico, Linha Direta, todos são louvados. E olha que as pessoas têm TV a cabo.

Sobre o patronato e a grosseria

Pressuposto para ser patrão é ser grosso. Em Condições Normais de Temperatura e Pressão (CNTP), ou, de acordo com as boas normas de educação, segundo as quais teoricamente deveríamos ser educados, a grosseria é uma exceção na forma de falar com o outro. Uma exaltação, algo extraordinário, à qual às vezes recorremos. Com ou sem razão, nunca é saudável. Cria um ambiente ruim, constrange, em situações extremas, humilha.
Depois do ambiente desagradável criado pela grosseria, vale acalmar o ambiente e pedir desculpas. Por que não? Mesmo que se esteja certo, a grosseria raramente se justifica, porque na maioria das vezes extrapola as razões da discussão. Então vale se desculpar por ela.
Mas não quando se é patrão. O patrão tem o pressuposto de apelar para a grosseria quando bem entender e NUNCA, NUNCA pedir desculpas por isso. Ele pode perceber seu erro, mas prefere acalmar o ambiente agindo em seguida com o empregado como se nada tivesse acontecido e mesmo tratando-o bem. Outra forma de constranger o subalterno.

Monday, August 07, 2006

nada para fazer

acontece poucas vezes... mas quando acontece é cruel: tem aqueles dias quando tem NADA para fazer. acabaram as tarefas e ainda não chegaram novas. ou então alguém num cargo acima do seu está enrolado e daqui a uns dias provávelmente vem uma verdadeira avalanche de tarefas acumuladas... de qualquer maneira, hoje pouca diferença faz... reina o tédio absoluto.

estou num dia destes e estou no dilema de sempre. como fazer passar o tempo? de manhã, já li todos os jornais online possíveis... isso é algo que pode-se fazer sem culpa. ninguém olha pra vc se você estiver lendo jornal. agora... jogar joguinhos... ler tirinhas... escrever em blogs... essas coisas não são bem-vistas.

então o que fazer. ficar 8 horas aqui sem produzir, isso pode ser bem duro! não tem sofá pra encostar, nem soneca pra tirar ;-)
mas acima de qualquer coisa: não tem como ir embora.

já perguntei se pudia ir pra casa em dias como este. recebi olhares constrangidos.
Claro que não!
afinal das contas você está sendo pago, então que você fique aqui fazendo nada, na empresa! quem recebe, tem que sofrer. se não tiver nada pra fazer, sofre em silêncio.

então por isso - claro que eu tô cagando pras outras pessoas nestes momentos.
estou o dia todo lendo tirinhas, escutando web-radio, vendo fotos e fotologs, lendo jornal, jogando joguinho...
na verdade, pudia ser pior.

Thursday, August 03, 2006

Apresentação de quem nos acha estranhos

Para inaugurar comento sobre uma das pessoas que inspirou a iniciação deste blog. Uma pessoa que, quando se está ao telefone, e ela percebe que pode-se estar falando com alguém “quente da mídia” – leia-se Organizações Globo, O Dia, JB, etc. – pergunta incessantemente “quem é? quem é?”, mesmo que você tenha recebido a ligação no seu celular.

Outra.
A mesma pessoa está ao seu lado, quando vê que, em sua caixa-postal de mail, há uma mensagem de um medalhão do jornal O Globo. O que ela faz? Clica no mail, que estava fechado, para lê-lo. A mensagem não era nada demais, um pedido burocrático, você também não tem ligação com o medalhão do Globo, mas abrir o seu mail no seu computador, na sua frente???

Claro que seria fácil dizer que eu também acho os outros estranhos, e pronto. Eles me achariam estranhos, e eu eles, pudia-se concluir que somos de diferentes "tribos". Ha. Ha.

O problema é que eu acho 90% da empresa normal. Tão normal, que qualquer interesse maior por algum assunto; qualquer dedicação que ultrapassa os limites do horizonte da pessoa com formação global é visto como algo 'estranho', algo 'engraçado'.

O chefe da nossa divisão aqui por exemplo é um cara muito gente-fina, não careta, mas também não faz nenhum pouco o estilo de doidão. Gosta de viajar e acampar apesar de seus 40 anos e tem opiniões fortes sobre mídia moderna e imprensa. De vez em quando, gosta de cantar alto do nada...
Pronto - Ele já é alguém 'especial'... ainda não visto como estranho... mas você já percebe que as pessoas chegam nele com um certo cuidado... como se ele não fosse deste planeta e teria outros costumes. Como se mordia...

Eu então - sou um E.T. Vou dar só um exemplo por hoje. Marcaram uma festa junina, mês passado. Com roupas típicas, correio do amor, brincadeiras idiotas... eu e um colega meu não quisemos ir. E isso NINGUÉM conseguiu compreender.
Não só não compreenderam como alguém pode NÃO gostar de vestir chapéu de palha e pintar bigode, dançar roda e fazer brincadeiras tipo maça do amor com as pessoas do trabalho, como também viram isso quase como um afronto. Rolaram diversoso momentos de "Como Assim?!?" quando eu tentava me explicar...
Depois que vi as fotos - nossa como fiquei feliz de não ter ido... e sou EU quem é estranho...

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